Não assisti na íntegra, mas li muito sobre...
Me perdoem os mais fiéis, mas achei
digno de pódio o enredo da Mangueira
abordando temas polêmicos como hipocrisia
religiosa e
violências sofridas por minorias. Para reforçar a mensagem, Jesus
surgiu como mulher, índio e negro com balas alojadas no corpo.
Isso me lembrou um Poema que conheci
quando criança e ainda hj
reflito nele quando vejo por aí tanto racismo e preconceito...
_____ Deus Negro _____
Eu, detestando pretos,
Eu, sem coração!
Eu, perdido num coreto,
Gritando: "Separação"!
Eu, você, nós...nós todos,
cheios de preconceitos,
fugindo como se eles carregassem lodo na cor...
E, com petulância, arrogância,
afastando a pele irmã.
Mas, estou pensando agora,
e quando chegar minha hora?
Meu Deus!
Se eu morresse amanhã, de manhã?
Numa viagem esquisita, entre nuvens feias e bonitas,
se eu chegasse lá e um porteiro manco,
como os aleijados que eu gozei, viesse abrir a porta,
e eu reparasse em sua vista torta, igual àquela que eu critiquei?
Se a sua mão tateasse pelo trinco,
como as mãos do cego que não ajudei?
Se a porta rangesse, chorando os choros que provoquei?
Se uma criança me tomasse pela mão,
criança como aquela que não embalei,
e me levasse por um corredor florido, colorido,
como as flores que eu jamais dei?
Se eu sentisse o chão frio,
como o dos presídios que não visitei?
Se eu visse as paredes caindo,
como as das creches e asilos que não ajudei?
E se a criança tirasse corpos do caminho,
corpos que eu não levantei
dando desculpas de que eram bêbados, mas eram epiléticos,
que era vagabundagem, mas era fome?
Meu Deus!
Agora me assusta pronunciar seu nome.
E se mais para a frente a criança cobrisse o corpo nu,
da prostituta que eu usei,
ou do moribundo que não olhei,
ou da velha que não respeitei,
ou da mãe que não amei?
Corpo de alguém exposto, jogado por minha causa,
porque não estendi a mão, porque no amor fiz pausa e dei,
sei lá, só dei desgosto?
E, no fim do corredor, o início da decepção.
Que raiva, que desespero,
se visse o mecânico, o operário, aquele vizinho,
o maldito funcionário, e até o padeiro,
todos sorrindo não sei de quê?
Ah! Sei sim, riem da minha decepção.
Deus não está vestido de ouro. Mas como?
Está num simples trono.
Simples como não fui, humilde como não sou.
Deus decepção!
Deus na cor que eu não queria,
Deus cara a cara, face a face,
sem aquela imponente classe.
Deus simples! Deus negro!
e cheguei até a pensar em amor,
Mas nunca,
nunca
pensei em adivinhar sua cor.
[Neimar de Barros]
______ xx ______
Nasceu pobre! Sem posses, defendeu e
andou ao lado daqueles que a sociedade
virou as costas oferecendo-lhes sua face
mais amorosa,
desprovida de preconceito, racismo, intolerância...
E se seus olhos e sua pele não forem
tão claros quanto sugere sua imagem mais popular?
Rejeitarás tu um Deus Negro? Será teu Deus uma decepção?
______ xx ______
Namastê!!!
AnaCarolina ®